O Crente e a Depressão

Em continuação a nossa série "Coração de Levita", quero abordar um tema que é difícil, até mesmo pelo fato de eu revelar situações da minha vida e minhas experiências pessoais, mas vejo que é preciso para que possa alcançar pessoas que estão vivendo esta dura realidade e precisam de um auxílio, este é o primeiro texto sobre o assunto e logo estaremos postando o restante.

Analisando uma situação 

Eu tenho 19 anos, fui criado em um lar cristão, porém um lar pouco comunicativo, quando tinha 15 anos sofri uma tragédia em minha vida, minha família perdeu repentinamente dois membros mais que importantes: Minha mãe e Minha avó, elas faleceram com 13 dias de diferença de uma para a outra, nunca pude me queixar da educação que meus pais me deram, porém o maior erro do meu pai (e acho que ele sabe disso) foi ter dedicado a maior parte de seu tempo para a igreja, colocando até em primeiro lugar na frente da família, se hoje sou um homem de bem, com certeza devo isso a ele, porém sinto que se a família estivesse em primeiro lugar, as coisas teriam sido diferentes naquela época, quando perdi minha mãe, nós não tínhamos quem tomasse conta do meu irmão mais novo, por este motivo, eu ficava em casa com ele enquanto meu pai se empenhava na obra de Deus e meu irmão mais velho trabalhava, tentei por dois anos arrumar forças para continuar o ensino médio mas era inútil, não conseguia estudar com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, sempre quis ser correto diante de Deus, viver longe das coisas ruins e que me afastassem  dEle, meu sonho sempre foi casar e constituir uma família como manda o figurino, porém não havia perspectiva de vida para mim, não tinha quem me orientasse profissionalmente, meus estudos estavam parados, não via como isso poderia mudar, pois não tinha forças para me erguer! 

       Pouco tempo depois meu pai casou-se novamente e foi remanejado para dirigir uma igreja no estado da Bahia, em um lugar bem afastado, neste meio tempo o Doce Harmonia (Eu já era integrante do grupo) estava gravando o primeiro CD, por isso não quis acompanhá-lo, decidindo então ficar na casa de uma tia aqui no Rio de Janeiro, porém ela morava um pouco distante e para cumprir a nossa agenda nas igrejas eu precisava ficar na casa de amigos integrantes do grupo nos fins de semana, ensaiava na segunda-feira e voltava para a casa da minha tia a noite após o ensaio, sempre com minha mochila nas costas e sem um lugar que eu pudesse considerar meu lar de verdade, quando estava na minha tia, tinha vontade de voltar a Honório Gurgel onde podia fazer o que gostava e ser quem gostava de ser, atuando no grupo, porém quando estava em Honório precisava estar como um nômade, dormindo em um quartinho de costura repleto de máquinas e retalhos, (se não fosse pelos amigos que me cederam este quarto, não sei o que teria sido de mim) onde forrava um colchonete e me deitava para chorar amargamente antes de dormir, minha família tinha se desfeito e eu me sentia como o único que sobrou, sentia falta da minha mãe, de ter uma cama certa para dormir, desempregado, sem orientação, sofrendo a humilhação de depender da bondade dos outros enquanto terceiros achavam que eu gostava de viver assim, imagina em meio a tudo isso, você ouvir de um parente seu: “Larga este conjunto e vai embora com seu pai, este negócio de música não é para você!”

Será que é possível viver feliz nessa situação?

Agora me diga se não é justificado o fato de um crente sofrer de depressão? imagine minha autoestima nesta época? Nós cantávamos em várias igrejas, vendíamos CDs, as pessoas amavam nosso ministério mas não nos conheciam de perto, e quando terminavam os cultos e eventos tínhamos que voltar cada um para sua realidade, e a minha realidade era esta que acabei de relatar, sofria até incompreensão por parte de alguns companheiros do grupo, mas tive de permanecer fiel a Deus pois ele era o único com quem podia me apegar, neste tempo vivi grandes experiências e aprendi coisas que não teria aprendido se estivesse em minha zona de conforto, ouvi grandes conselhos de pessoas que me deram muitas vezes repreensão mas que hoje entendo que eram para o meu bem, até por que, os sintomas da depressão te fazem tomar atitudes insanas, foi necessário passar por isso e por muito mais coisas que não menciono aqui, para que hoje eu possa valorizar cada bênção de Deus em minha vida, agora estou com 29 anos, trabalho a 4 estou abrindo um negócio próprio no bairro onde vivo, estou casado com uma pessoa maravilhosa que Deus colocou em minha vida, tudo está diferente!

Parecia impossível chegar onde cheguei!

Porém a alguns anos atrás eu não conseguia enxergar nada disso acontecendo, achava impossível; e é diante do desconhecido que nós mergulhamos em sentimentos de angústia, tristeza, baixa autoestima e outros dilemas que nos levam direto ao encontro dela, a depressão, é hipocrisia dizer que o crente não pode passar por isso, por este motivo muitos tem abandonado sua fé, pois conheceram um evangelho onde não há renuncia nem sofrimento, a vida não é um mar de rosas e em algum momento vamos enfrentar sim, situações que podem nos levar a depressão, mesmo sendo um ministro, pastor, cantor, ou seja quem for, talvez até uma pessoa de influência, hoje fico imaginando, se eu tivesse desistido? Se eu tivesse abandonado o Doce Harmonia, ministério que Deus colocou em minha mão pra exercer? 

     Depois deste período difícil onde tive que renunciar muitas coisas, Deus começou a abençoar nosso trabalho, como nunca antes, já estivemos em lugares que nunca imaginamos e já estamos em nosso terceiro trabalho gravado, onde muitas das músicas, versões e arranjos, Deus enviou através de mim! E se eu tivesse desistido? é muito fácil falar: abandona tudo! Por falar nisso, o mesmo que me disse isso, depois me procurou para saber como levar o grupo na igreja dele! E se eu tivesse parado? Pergunto de novo!

Casos de Depressão na Bíblia      

Hoje entendo que a depressão era uma das maiores armas de Satanás, para me fazer desistir! Porém encontrei forças em Deus pois Ele nunca nos desampara! Falo e repito que este é um problema que assola muitas pessoas, inclusive cristãs, se não fosse assim não veríamos na Bíblia, alguns personagens extremamente usados por Deus apresentando em algumas passagens, os sintomas da depressão. Veja o que o salmista diz:

Salmos 116:3 - “Os cordéis da morte me cercaram e angústias do inferno se apoderaram de mim, encontrei aperto e tristeza”.

Salmos 18:4 - “Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam”.

Em 1 Reis 19:4 vemos Elias pedindo que o Senhor o levasse, pedindo para si a morte, e isso após derrotar os profetas de Baal!

No livro de Jó Capítulo 3, Jó amaldiçoa o dia em que ele próprio nasceu!

Quando o Salmista fala sobre tristeza do inferno, é interessante lembrar que o fator espiritual está inserido neste contexto, pois uma pessoa deprimida, se entrega ao fracasso, mesmo que tenha um grande potencial para trabalhar para Deus, e o adversário de nossas almas se aproveita de um quadro psicológico para influenciar espiritualmente, lembrem-se que nossas emoções, nosso espírito e alma estão totalmente ligados um ao outro, por isso, se você está passando por algo parecido, não pense que é porque você está mal com Deus, lembre-se que antes de ser crente e antes de ser levita, você é humano, dotado de sentimentos e emoções que o próprio Deus colocou em você, quem melhor que Ele para te compreender?